A Oxigenoterapia Hiperbárica Veterinária ou simplesmente OHB é uma maneira de se tratar diferentes doenças dos animais, na qual o paciente veterinário é submetido à inalação de oxigênio a cem por cento, dentro de uma câmara hermeticamente fechada e com paredes rígidas. A pressão exercida pelo oxigênio puro, a pressões que podem chegar de uma a três atmosferas faz com que o oxigênio, combustível essencial para a regeneração de tecidos e consequente cicatrização, chegue com mais eficiência aos locais desejados.
A origem e o desenvolvimento da oxigenoterapia hiperbárica e a medicina do mergulho, estão intimamente ligadas e o uso de gás comprimido na medicina tem raízes antigas. Em 4500 AC o mergulho livre em busca de madrepérola era uma ocupação bem conhecida. Em 320 AC Alexandre, O Grande teria feito um mergulho através de um barril de vidro no Estreito de Bósforo. Em 1500 DC, Leonardo da Vinci, fez vários esboços sobre dispositivos de mergulho, embora nenhum parece ter evoluído ou sido desenvolvido.
Em 1620, o inventor holandês Cornelius Drebbel, inventou um “sino de mergulho” que consistia num dispositivo de fundo aberto e que dependia da pressão da água para manter o ar preso dentro do sino. Nesse equipamento o ar era bombeado para dentro com mangueiras para manter o ar fresco e confortável para os mergulhadores, enquanto o excesso de gases vasava pela borda do sino. Esse equipamento provavelmente deu origem à base subaquática para os mergulhadores.
O uso da terapia hiperbárica, a bem da verdade, veio antes do descobrimento do oxigênio (1773- por Carl Wilhem Scheele, a partir de experimentos de Lavoisier) e por volta de 1662, quando o Médico/Clérigo Britânico, Nathaniel Henshaw, observou que as pessoas quando vinham ao litoral para buscar tratamentos médicos, melhoravam significativamente somente pelo fato de estar ao nível do mar. Dessa observação, Henshaw, criou uma câmara com paredes rígidas que através de foles e válvulas reguladoras era preenchida com ar a fim de comprimir ou descomprimir. À essa câmara foi dado o nome de domicilium, que tanto podia criar ambiente hiperbárico como hipobárico. Muito embora não tivesse base científica, Henshaw acreditava que as condições clínicas agudas se beneficiariam com o aumento da pressão do ar e as condições crônicas responderiam melhor à baixa pressão. Criou assim o “banho de ar comprimido”
Na década de 1930, o médico Brasileiro Álvaro Osório de Almeida reconheceu os benefícios da oxigenoterapia hiperbárica em pacientes humanos quando descreveu melhora clínica nos pacientes com Hanseníase e gangrena gasosa. Em 1937, Albert Behnke e Louis Shaw publicaram uma pesquisa indicando a oxigenoterapia hiperbárica para tratamento da doença descompressiva. Ao longo da história seguinte, animais foram tratados em câmaras para fins de pesquisa para posterior uso dessa modalidade médica de tratamento, para uso em humanos.
Em 1830, o cirurgião Francês Fontaine, trouxe o interesse definitivo para a medicina hiperbárica quando criou uma câmara hiperbárica móvel que baseada numa lei básica da física (Lei de Henry) a qual declara que a solubilidade de um gás num liquido é diretamente proporcional à pressão que o gás exerce no líquido, sem que nenhuma reação química ocorra. Ao fazer isso, Fontaine aumentou a quantidade de oxigênio transportada pela corrente sanguínea do paciente durante procedimento anestésico com óxido nítrico, o que impedia que os níveis sanguíneos do oxigênio caíssem como tipicamente ocorria.
A Partir dos anos 2000 o interesse pela comunidade Veterinária em utilizar a OHB como um complemento aos tratamentos médicos e cirúrgicos tradicionais, cresceu significativamente e diversas instituições de pesquisa como Universidades e também grandes centros de Medicina Veterinária particulares, fizeram e fazem uso dessa modalidade.
O uso da oxigenoterapia hiperbárica (OHB) está direcionada para todas aquelas situações onde melhorar a distribuição de oxigênio aos tecidos é uma prioridade. Os mecanismos de ação da OHB, são a hiperoxoginação do plasma e tecidos com a finalidade de proporcionar ao tecido lesionado uma melhor performance de regeneração/cicatrização.
Quatro leis da física, relacionadas aos gases, estão envolvidas e explicam a maximização da densidade e solubilidade do oxigênio. São elas:
Também chamada da Lei das pressões parciais que afirma que a pressão total exercida por uma mistura de gases é igual a soma das pressões parciais dos gases envolvidos.
Relaciona o volume e a densidade de um gás à pressão desse gás numa temperatura constante. Afirma que o volume do gás (por exemplo o oxigênio) é inversamente proporcional à pressão, enquanto a densidade é diretamente proporcional à pressão.
Descreve a relação da pressão de um gás para a forma como ele se move. Afirma que o oxigênio e dióxido de carbono por exemplo, movem-se independentemente e em taxas diferentes de áreas de alta pressão para baixa pressão.
Diz sobre a quantidade relativa de um gás que pode ser dissolvido num liquido, isto é, a solubilidade de um a gás num liquido é diretamente proporcional à pressão do contato deste gás com o líquido.
A entrega do oxigênio aos tecidos depende do débito cardíaco, do oxigênio arterial circulatório e do fluxo sanguíneo. Esta entrega pode ser calculada usando a concentração de hemoglobina, a saturação da hemoglobina e a pressão arterial parcial do oxigênio.
Em condições normais a contribuição do oxigênio dissolvido é muito pequena, no entanto, sob condições hiperbáricas, o conteúdo do oxigênio dissolvido no plasma pode ser aumentado em até 15 vezes o normal. Este aumento na capacidade de transporte do oxigênio do sangue é independente dos glóbulos vermelhos (hemoglobina), portanto os aumentos resultantes da fração inspirada de oxigênio e pressão alveolar do oxigênio, sob condições hiperbáricas disponibilizam mais oxigênio para difusão nos capilares pulmonares, o que em ultima análise propicia um aumento da taxa de oxigênio no espaço intersticial e depois nas células, favorecendo sua recuperação.
O efeito primário da hiperoxoginação hiperbárica é a diminuição do tamanho da bolha oxigênio aumentando a capacidade de transporte pelo sangue. O tamanho reduzido da bolha de gás faz com que aja melhor passagem pela vasculatura comprometida, além disso, a menor área superficial do oxigênio hiperbárico reduz a ativação das plaquetas, complemento e fator de Hageman (fator XII).
Ainda como efeitos benéficos, nota-se aumento dos leucócitos, melhora da capacidade anti-oxidativa através da modulação da produção do óxido nítrico, modificação dos fatores de crescimento e regulação dos efeitos das citocinas.
A Oxigenoterapia hiperbárica também diminui a produção de toxinas alfa-clostridiais e é sinérgico com alguns antibióticos, como as fluorquinolonas, anfotericina B e aminoglicosídeos, com efeito adicional de diminuir o edema vasogênico.
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