A doença renal em gatos, também chamada de doença renal crônica (DRC), é uma enfermidade que afeta milhares de felinos no Brasil e no mundo. Trata-se de uma condição progressiva e irreversível, em que os rins perdem, aos poucos, sua capacidade de desempenhar funções vitais – como eliminar toxinas do sangue, manter o equilíbrio hídrico e controlar a pressão arterial.
Embora seja mais comum em animais com idade avançada, a doença renal crônica felina pode afetar gatos de qualquer idade. A prevalência aumenta consideravelmente a partir dos 7 anos, atingindo até 30% dos gatos idosos.
Essa condição exige atenção constante, diagnóstico precoce e acompanhamento veterinário criterioso, pois interfere diretamente na qualidade e na expectativa de vida do animal.
Principais funções dos rins em felinos
Antes de entender a gravidade da doença renal em gatos, é importante lembrar o papel essencial dos rins no organismo:
- Filtragem de toxinas e resíduos do metabolismo;
- Produção de hormônios, como a eritropoetina (que estimula a produção de glóbulos vermelhos);
- Regulação da pressão arterial;
- Equilíbrio de eletrólitos e do pH sanguíneo;
- Controle da hidratação corporal por meio da concentração da urina.
Quando os rins começam a falhar, o corpo do gato passa a sofrer com acúmulo de toxinas, alterações hormonais, desidratação, perda de proteínas e anemia — gerando sintomas muitas vezes silenciosos e progressivos.
Causas da doença renal crônica em gatos
Diversos fatores podem levar à doença renal em gatos. Algumas causas são evitáveis, outras, não. Veja as mais comuns:
Envelhecimento natural
Com o avanço da idade, os néfrons (unidades funcionais dos rins) sofrem degeneração natural. Isso explica a maior incidência de DRC em gatos seniores e geriátricos.
Doenças infecciosas
Algumas infecções podem causar inflamação ou destruição do tecido renal. Entre elas:
- Leptospirose (rara em gatos, mas possível);
- PIF – Peritonite Infecciosa Felina;
- Infecções bacterianas ascendentes do trato urinário.
Toxinas e medicamentos
O contato com produtos tóxicos pode desencadear insuficiência renal aguda ou crônica:
- Lírios (plantas extremamente tóxicas para gatos);
- Antissépticos como creolina ou fenol;
- Medicamentos como anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e certos antibióticos.
Predisposição genética
Algumas raças têm maior predisposição à doença renal policística (PKD), como:
- Persa;
- Exótico de pelo curto;
- Ragdoll;
- British Shorthair.
Essa condição hereditária forma cistos nos rins que prejudicam seu funcionamento com o tempo.
Hipertensão arterial
A pressão alta em gatos pode tanto ser consequência quanto causa da doença renal. Ela danifica os vasos renais, agravando a perda de função.
Sintomas da doença renal em gatos
Os sinais clínicos da doença renal felina são, muitas vezes, sutis no início. Com o avanço do quadro, tornam-se mais evidentes. Entre os principais sintomas:
- Polidipsia: aumento na ingestão de água;
- Poliúria: aumento da frequência urinária;
- Perda de peso progressiva;
- Vômitos esporádicos ou frequentes;
- Apatia e letargia;
- Redução do apetite (hiporexia);
- Desidratação crônica;
- Halitose com odor semelhante à amônia;
- Pelagem opaca, sem brilho, com queda acentuada;
- Ulcerações orais em estágios mais avançados;
- Anemia (palidez das mucosas, cansaço);
- Incoordenação e fraqueza muscular.
Por serem sintomas inespecíficos, muitos tutores os confundem com sinais naturais do envelhecimento, o que pode atrasar o diagnóstico e o início do tratamento da doença renal.
Estágios da doença renal crônica
A International Renal Interest Society (IRIS) classifica a doença renal crônica felina em quatro estágios, com base nos níveis de creatinina e SDMA (biomarcadores renais):
Estágio | Descrição | Nível de Creatinina |
I | Inicial, sem sintomas evidentes | <1,6 mg/dL |
II | Leve, com sintomas discretos | 1,6 – 2,8 mg/dL |
III | Moderado, sintomas visíveis | 2,9 – 5,0 mg/dL |
IV | Grave, com sinais intensos | >5,0 mg/dL |
O diagnóstico precoce (estágios I e II) permite um controle mais eficaz e melhora significativa na qualidade de vida do paciente felino.
Diagnóstico da doença renal em gatos
O diagnóstico é feito por meio de consulta veterinária completa, que inclui histórico clínico, exame físico e exames complementares. Os principais são:
Exames de sangue
- Creatinina e ureia: indicadores clássicos de função renal;
- SDMA: marcador mais sensível, detecta alterações ainda nos estágios iniciais;
- Fósforo, cálcio, potássio: ajudam a avaliar o equilíbrio eletrolítico;
- Hemograma completo: verifica anemia e infecções.
Exames de urina
- Densidade urinária: indica a capacidade de concentração renal;
- Proteinúria: presença de proteína na urina;
- Sedimentoscopia: identifica cristais, células e bactérias.
Ultrassonografia abdominal
A ultrassonografia permite observar:
- Tamanho e formato dos rins;
- Presença de cistos, cálculos ou alterações estruturais;
- Espessura do córtex renal.
Medição da pressão arterial
A hipertensão deve ser investigada sempre que há suspeita de doença renal em gatos, pois influencia diretamente na evolução da doença.
Tratamento da doença renal em gatos: como oferecer qualidade de vida
Embora a doença renal em gatos não tenha cura, o tratamento visa retardar a progressão, minimizar os sintomas e preservar a qualidade de vida do felino. O sucesso terapêutico depende diretamente do estágio da doença no momento do diagnóstico, da adesão do tutor e do acompanhamento regular com o médico veterinário.
A seguir, listamos os pilares do tratamento da doença renal crônica felina:
1. Dieta renal específica para gatos
A alimentação é o principal eixo de controle da DRC.
As dietas renais para gatos são formuladas com:
- Baixo teor de fósforo: reduz a progressão da lesão renal;
- Proteína de alta digestibilidade e em quantidade controlada: para minimizar o acúmulo de ureia sem provocar perda muscular;
- Suplementos antioxidantes (como ômega 3 e vitaminas do complexo B);
- Teor equilibrado de sódio e potássio.
Gatos tendem a rejeitar mudanças alimentares. Por isso, a transição deve ser feita de forma gradual e supervisionada. Em alguns casos, o uso de palatabilizantes, ração úmida ou aquecimento do alimento pode estimular a aceitação.
2. Medicamentos e suporte clínico
Conforme o estágio da doença renal, o veterinário pode prescrever:
- Quelantes de fósforo administrados junto à refeição para impedir a absorção intestinal do fósforo;
- Medicamentos para controlar a proteinúria e a pressão arterial;
- Antieméticos em casos de náusea e vômito;
- Protetores gástricos e reguladores do apetite;
- Medicamentos para controlar a anemia intensa e refratária; inclusive dispomos de câmara hiperbárica que pode contribuir. https://hvsm.com.br/oxigenoterapia-hiperbarica-em-curitiba/
- Suplementos vitamínicos, como complexo B e potássio, em casos de deficiência.
Jamais medique o animal por conta própria. O uso incorreto de medicamentos pode agravar o quadro.
3. Hidratação constante e fluidoterapia
Gatos com doença renal têm maior risco de desidratação crônica. Manter o felino hidratado é fundamental.
Estratégias de hidratação:
- Incentivar o uso de fontes de água em movimento;
- Oferecer ração úmida (sachês e latas);
- Utilizar gelatinas felinas específicas;
- Adicionar cubinhos de gelo com caldo de carne natural (sem tempero) ao bebedouro.
Fluidoterapia subcutânea:
Nos estágios mais avançados da doença, a fluidoterapia subcutânea domiciliar pode ser indicada. É um procedimento simples, indolor, que o tutor pode aprender com o veterinário. Serve para corrigir a desidratação, melhorar a função renal e ajudar na eliminação de toxinas.
4. Monitoramento contínuo
A consulta veterinária periódica é indispensável. O acompanhamento envolve:
- Repetição de exames laboratoriais (ureia, creatinina, SDMA, fósforo, potássio);
- Avaliação da pressão arterial;
- Controle da ingestão de água e urina;
- Monitoramento de peso e escore corporal;
- Reajuste da dieta e medicações conforme necessidade.
O intervalo entre os check-ups varia conforme o estágio da doença, mas a cada 3 a 6 meses é o mais recomendado.
5. Cuidados gerais em casa
Tutores de gatos com DRC devem adotar práticas específicas no dia a dia:
- Evitar o estresse e oferecer um ambiente tranquilo;
- Facilitar o acesso à água e alimento;
- Manter a caixa de areia sempre limpa e em local acessível;
- Observar sinais como vômito, apatia ou redução no apetite;
- Evitar exposição a produtos tóxicos;
- Manter a vacinação e o controle parasitário em dia.
Alimentação complementar e cuidados nutricionais
Além da ração terapêutica, é possível complementar a alimentação com:
- Snacks renais específicos (encontrados em pet shops);
- Água de cozimento de frango (sem sal, sem temperos);
- Geleias hidratantes com taurina;
- Uso de probióticos que contribuem para a flora intestinal e a absorção de nutrientes.
Jamais ofereça suplementos humanos, petiscos comerciais genéricos ou alimentos de origem duvidosa sem orientação veterinária.
Doenças que predispõem ou se associam à DRC
A doença renal em gatos pode ser consequência ou coexistir com outras enfermidades:
- Hipertensão arterial sistêmica;
- Doença periodontal severa (foco de infecção constante);
- Infecções urinárias recorrentes;
- Doença cardíaca felina;
- Linfoma renal (tipo de câncer);
- Doença renal policística;
- Diabetes mellitus;
- Hiperparatireoidismo secundário.
Por isso, uma avaliação completa é essencial para definir a abordagem terapêutica mais adequada.
Prevenção: é possível evitar a doença renal em gatos?
Embora nem todos os casos possam ser evitados, algumas medidas ajudam a reduzir o risco de doença renal felina:
- Check-ups anuais a partir dos 7 anos (ou semestrais após os 10);
- Acesso irrestrito à água fresca e limpa;
- Alimentação de qualidade e balanceada;
- Evitar exposição a plantas tóxicas (lírios, comigo-ninguém-pode, azaleias);
- Evitar automedicação e uso de medicamentos humanos;
- Tratamento adequado de infecções urinárias ou sistêmicas;
- Monitoramento da pressão arterial em gatos idosos.
A importância da consulta veterinária preventiva
O diagnóstico precoce da doença renal em gatos é a chave para preservar a qualidade de vida do felino. Gatos tendem a esconder sinais de dor e desconforto, por isso exames preventivos e consultas veterinárias regulares são tão importantes.
No Hospital Veterinário Santa Mônica, oferecemos uma abordagem personalizada e atualizada no manejo da doença renal crônica em felinos, com estrutura moderna, equipamentos avançados e uma equipe com olhar atento ao bem-estar dos gatos.
A doença renal em gatos é uma realidade comum, mas que pode ser controlada com diagnóstico precoce, manejo adequado e acompanhamento contínuo. Com o suporte correto, é possível proporcionar uma vida longa, confortável e cheia de carinho para seu felino.
Se o seu gato tem mais de 7 anos, apresenta alterações de apetite, peso ou ingestão de água, agende uma consulta veterinária preventiva conosco. Estamos prontos para cuidar do seu gato com todo o conhecimento, tecnologia e afeto que ele merece.
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